domingo, 27 de fevereiro de 2011

Vale da Morte



Chegando ao Vale da Morte,
Deparei-me com grande mistério:
No céu ou no inferno eu não estava;
Estava preso no cemitério.

Não tinha o corpo de carne
Pois os vermes o consumiram.
O que me restou dessa vida
Foi a dor pela triste partida.

Os anjos barrocos fitavam
O meu ser, alma perecida
E o ódio que enegrecia
O pouco da vida que restava.

As tumbas, sepulcros palácios,
Abriam-se  com meu andar.
Os povos que ali residiam
Ao meu redor, se acumulavam.

Chegou ao fim a minha vida,
E talvez o início da sorte.
Quem sabe, nessa nova “vida”
Eu tenho mais sorte na morte?

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O espelho




O espelho de vidro repete
A imagem que nele aparece,
A beleza que chega à sua frente,
Mas a alma ele sempre esquece.

O espelho de vidro é falso,
Tal qual diamante que quebra
Ao se deparar com o chão;
O espelho é pura ilusão.

Para aqueles que nele acreditam,
Só peço um pouco de atenção:
O espelho de vidro não mostra
A verdade de um coração.

Se querem saber, sem confusão
O que o coração de alguém guarda,
Olhem para o espelho divino
Que mostra a verdade da alma.

O espelho divino é o olho
E o olhar sincero é transparente,
Mostra a alma, seu interior,
Mostra o ódio, mostra o amor.

Mas cuidado, o espelho da alma
Não esconde ou perdoa quem mente;
O espelho mostra, simplesmente,
A verdade para quem nele olhar.

Tributo aos Poetas



O poeta é artista,
É urbanista, no êxodo rural.

O poeta é a canção do silêncio dito em palavras;
É o escultor da pedra bruta do léxico.

Poesia é amar ao belo, ao bruto;
Ser poeta é o mesmo que um arquiteto
Que tira da terra a moradia (da alma)


O Poeta é um pintor divino,
Que faz do papel a sua tela e da pena o seu pincel.
A tinta do quadro do poeta são as palavras,
Que organizadas refazem a criação do Criador.

O poeta é o Deus das palavras.

Silêncio Total



Não falo,
Não grito,
Não urro,
Mas sinto a dor que enlouquece meus iguais.

Digo do meu jeito, a sensação de ser viva,
O viver de cada dia, experiência única.
Não falo meus pensamentos, mas os transmito a outros.
Não digo que não gostei, mas me faço entender.

Não escuto o barulho da chuva,
Mas sei a sensação que tens quando a água cai à minha face;

Não ouço o estrondo dos trovões,
Mas sei o arrepio que causam quando vejo sua luz;

Não sei qual é o som do mar, das águas batendo nas rochas,
Nem do pequeno mar escondido dentro de uma concha,
Mas sei qual é a sensação quando sinto a brisa marítima.

Não grito a dor, mas a percebo;

Não digo palavras, mas me comunico.


A voz que clama por justiça, essa eu tenho.
A voz rouca que grita o final da guerra, da fome, da miséria,
Da política suja e perversa...
Essa voz eu solto.
Essa voz que grita por esperança
Essas sangram minhas mãos, que não param de lamentar meu silêncio
Mostrando minha indignação pelo que vejo.

No silêncio que vivo, percebo os mesmos problemas, os mesmos sintomas,
Os mesmos devaneios, os mesmos hematomas...
Mas não uso palavras para me expressar:
Uso a voz do coração.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Insensatez


Julgam-me os erros cometidos,
Atiram-me as pedras do pecado,
Cobrem-me de ofensas e insultos;
Fico só, no meu canto, calado.

Inspiram-me a atos de luxúria,
Expelem-me o veneno insensato,
Tocam-me com malícia e crueldade;
Nos seus olhos, vejo pura maldade.

Acato a ira dos excluídos,
E me deixo levar por meus impulsos:
Guardo na alma sentimentos puros
Que não controlam mais a minha vida.

Assim, me ensinaram a viver,
Mostrando-me que a vida é sofrida.
Se eu tenho que fazer alguém sofrer
Melhor assim, do que eu sofrer na vida.

Vida...

Vida ida
Vida ainda
Vida finda,
Finda, vida.

Vida linda
É vida vivida,
Vida valente,
Vida contente.

Vida doente
É vida sofrida,
Vida perdida,
Vida deprimente.

Vida carente,
Vida sem gente,
Vida maldita,
Vida sentida.

Vida despida,
                Vida caída,
                               Vida falida,
                                               Vida dividida,

                                               Vida bendita,
Vida excelente,
Vida forte,
Viva a vida!

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Haicais livres












A flor desabrocha:
Entre duas rochas,
A Primavera da vida.














Uma folha seca,
No galho do Carvalho,
Espera cair no tempo...











Estrelas do mar
O céu na areia
Presente de sereia.


A vida passa, o tempo passa, a uva passa...
A vida passa pelo tempo ou o tempo passa pela vida?
O tempo passa pela vida passada da uva passa.

Apocalipse


















No céu, o fundo azul tornou-se rubro,
As cores do arco-íris esmoreceram,
A água, clara e pura, enegreceu,
Tudo que tinha vida, então, morreu.

De dois em dois chegaram, e alados
Em seus corcéis de branco e limpo pelo,
Desvairavam tropas eloqüentes,
Os quatro cavaleiros combatentes.

Em um único brado se uniram
As vozes dos Homens inconseqüentes.
E sem dó ou piedade, simplesmente,
Ceifaram as vidas, que ali pereceram.

E por assim fizeram acontecer,
O que há tempos vem-se avisando,
Do céu, sangue começou a chover
E a vermelhar a terra, anunciando:

“A maravilha que os Homens fizeram,
Destruindo a vida da Mãe Natureza,
Deu a cada um a única certeza
De que as vossas vidas se encerravam.

E, tal qual é a lei e a profecia,
Não podeis mais contar com outra sorte;
Chegou tardio o esperado dia,
O dia da Vida perder para a Morte”.

Andarilho Solitário


Andando eu sigo, com ou sem cansaço,
Para me encontrar em algum lugar.
O meu Destino? Sou eu quem O traço
Queria poder chegar ao meu lar.

Eu ando, ando, ando, Eu comigo;
Não sei de onde vim, nem aonde vou.
Eu penso, penso, penso e não consigo
Chegar à conclusão de quem eu sou...

 Quero encontrar meu elo perdido,
Meu Eldorado, nunca conquistado,
O Rei e a Rainha dum país
Num xeque-mate inafiançável.

Mas cá estou, na busca de mim mesmo,
Na ânsia de um dia me encontrar;
Sozinho, eu sou eu comigo mesmo
E torno a andar, andar, andar...

Devaneios psicotrópicos




Olho-me no espelho- sei quem sou...
Ao mesmo tempo em que não me conheço;
Aguardo minha alma fugitiva retornar
Com a recompensa que sempre peço.

No escuro, uma luz me irradia,
Deixando que eu me veja ( francamente)
Há tempos não sabia quem eu era,
Pois todos me chamavam de demente...

Essa minha demência é estranha:
Ela vem e se vai, por várias vezes,
Adentra as entranhas da minh’alma;
Me deixa sôfrego e depois me acalma.

E cá estou, em minha demasia,
Esperando eu mesmo retornar...
Essa é minha eterna recompensa,
Eu e minha amiga, Esquizofrenia...


Ás vezes sento e choro. No entanto,
Uma alegria vem em meu favor:
Lembro-me do teu cheiro, teu calor,
Que acalma e que aquece o meu pranto.

Queria hoje, estar ao seu lado,
Sentir novamente o seu amor,
 Viver as peripécias do passado,
No tempo em que eu era seu amado.

Sei que muito errei, e ainda erro,
E hoje, errante, vago pelo mundo,
Vacilante em meu constante sofrimento,
Quero, da morte, o meu salvamento.

Infância






Quando eu era criança,
Eu brincava de bola,
Eu corria na escola,
Tinha mais esperança...

Quando eu era criança,
Eu chorava de dor,
Hoje, choro do amor,
Choro de desconfiança...

Quando eu era pequeno,
Eu gritava de medo,
Medo de pesadelo,
Medo de levar susto.

Hoje choro de medo,
Grito por sentir dor,
Corro atrás do amor,
Sinto um desespero...

Hoje, lembro de antes,
Tenho tanta saudade...
Na minha inocência,
Deus era a humanidade.

Antes, eu era puro,
Agora sou maduro,
Gente da minha idade
Não tem mais vaidade.

Mais velho vou ficando,
E lembrando, e lembrando,
Quando eu tinha esperança...
Que saudade da infância!

Cativeiro



O que sinto não é amor, não é bem-vindo;
O que sinto é dor, a dor de um coração partido.
Não me chamo Homem, não tenho nome...
Tenho MEDO
MElancolia,
DOr...
Meu coração se abre ao avesso, as veias não pulsam sangue:
Expelem veneno!
A nostalgia toma conta de mim
(Há tempos não me sentia assim...)
Levanto, lavo a cara e me olho no espelho. Nada.
Uma voz grave me diz: “Anda, assopra a poeira,
Retira a coleira, faça o que sempre quis...”
Ouço, mas não te vejo. Ouço apenas. Ouço...
Corro, o quanto posso, antes que o cansaço me siga e me vença.
Me libertei de mim, para ser escravo eterno do Tempo...

O mundo contemporâneo



As matas não são mais verdes,
Os rios não tem mais água
Os pássaros não estão mais contentes
E não voam alegres n’Alvorada.

O céu não é mais azul,
As estrelas não brilham como antes.
O ar, para poder ser respirado,
Deve antes ser purificado e reciclado.

O verde hoje é dos Homens, e não das árvores,
Deus brincou de criar o Homem,
E o Homem brincou de ser o criador de Deus.
Até o colorido arco-íris hoje é  monocromático...

E do princípio se fez o Fim...
Homens, troquem a cor do mundo para as cores de outrora,
Troquem seu sangue cinza por um sangue carmim;
Ah! Como eu gostaria de ver alegres os pássaros na aurora...

Ódio...



Ódio doido, doído, doente.
Ódio, doença de doido?
Decadência...
Ódio, doença da desavença!

Amante Perdido



A lágrima que solto (gota rara)
É leve, doce, caloroso pranto,
Tristeza que me alegra e que me agrada,
Suspiro que me lembra teus encantos.

O choro,que hoje me mantém vivo,
Há tempos não corria por meu rosto
E, qual a flor, que nasce por um broto,
Me alimenta, mas me deixa inativo.

Eu peço, a Deus-Pai, Todo-Poderoso,
Que se algum desejo for me conceder,
Antes que a vida se transforme em morte,

Deixe-me um só minuto orgulhoso,
Revigore-me, na última sorte,
A dádiva de em teu lado perecer.

Amor Puro e Incondicional


Os olhos da sua alma me refletem
O s sonhos e desejos alcançados,
Os sentimentos puros e trocados,
E quais os corações nunca esquecem.

A lágrima que hoje me derrama
Os olhos são de meu contentamento
Por sentir o mais puro sentimento
Do amor belo e divino de quem ama.

E, antes, eu que sofria por amá-la,
Sofria por não lhe saber como dizer,
Sofria por pensar em te fazer sofrer...

Sei que, se eu viver bem intensamente,
Nosso amor, puro, belo, certamente
Terei a minha chance de conquistá-la.

Sopro da Vida



Sofro com o despertar dos inocentes.
Choro, com as lágrimas dos desesperançados.
Evito o dia para não ter que ver a noite.
(Onde se encontra o amanhã?)

Escuto gritos de dor, mas não os conheço.
Ouço súplicas, mas sempre as esqueço.
Sento, acendo um cigarro e espero,
Espero a sorte trazer o que eu quero...

Minha vida? Essa eu já esqueci
Desde o momento de meu nascimento,
Que foi o dia do meu maior tormento,
Pois nascendo, eu morri e pereci.

Eu me encosto e meus olhos se cerram
De angústia, de agonia e de dor.
Minha “vida” e minha sorte se encerram
Pois, na “vida” nunca tive um grande amor.

Sorte contrária



Noite escura,
Clara lua,
Duas sombras.

Duas figuras andarilham na noite pérfida.
Perambulam com andar transfigurado, sonolentos
Esguiam-se mutuamente e, de momento a momento,
Voltam-se para a rua, solitárias companhias.

O andar grotesco indica a petulância, a miséria,
Que esses animais sofrem no cotidiano.
Aguardam ansiosos, ano a ano,
Que a sorte lhes traga boas novas.

O tempo passa, ou se passa pelo tempo
Com ligeira rapidez e esquecimento.
Esses pobres infelizes não eram animais
Eram pessoas esperando a cerração dos olhos de seus tormentos.

Lágrimas na Lua,
Céu sem escuridão,
O cosmos chora o revés dos filhos;
Esperança...

Nas poças enlameadas se encontra o melhor dos espelhos,
Não aquele feito pelo homem, mas o verdadeiro da natureza des”humana”:
O espelho da alma.

Ao olharem, as criaturas encontram duas sombras horrendas
Com resquícios mínimos de humanidade, filhos das trevas
E filhos dos pais que os fizeram e não assumiram paternidade
Esses monstros, meus amigos, são irmãos nossos,
Crias da gestação abortiva
Da Sociedade...